segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Hospital de PE não tem obstetra na sexta-feira nem no fim de semana

Na semana passada, a ONU condenou o Brasil por violação dos direitos humanos depois da morte de uma jovem grávida, no Rio de Janeiro. Poucos dias depois, em Belém, uma outra jovem perdeu os filhos gêmeos após ter o atendimento recusado em dois hospitais. E no interior de Pernambuco, o Fantástico descobriu que existe uma cidade onde os bebês só "podem" nascer entre segunda e quinta-feira.
 Nesta semana, uma jovem perdeu os filhos gêmeos após ter o atendimento recusado em dois hospitais de Belém. E o Fantástico foi ao interior de Pernambuco contar a história de outra mãe, que acompanhou a filha em trabalho de parto, sem obstetra, durante 18 horas. A menina e o bebê morreram.
  “Eu falei: ‘Mainha, foi meu filho, meu filho morreu, não foi? Ela respondeu: ‘Você tem que aceitar, porque o que Deus faz a gente tem que aceitar’. Mas eu não aceito perder meu filho assim”, lamenta a dona de casa Taciana Maria da Silva Gomes. Maria de Lourdes Alves da Silva, também dona de casa, conta como tudo aconteceu: “Me perguntaram: ‘É você que é a mãe da Marcela? Sinto muito, mãe. Mas o bebê dela morreu, e ela está com hemorragia".
“Ele disse a ela assim: ‘Quando você está com problema de vista, minha filha, você procura um oculista ou um açougueiro?’ Você se lembra que você disse isso a ela?, pergunta Ana Luiza Carvalho silva.
“Eu quis dizer que quando a pessoa precisa ter um parto, tem que procurar um obstetra. Aqui não é maternidade”, explica o clínico geral José Maurício Leite.
“Nós estamos aqui abandonados”, diz a professora Maria José da Silva.
O Fantástico foi a Barreiros, a 110 km da capital de Pernambuco. Na cidade, a tristeza de avós sem netos e as roupinhas de bebê sem uso são a face mais dolorosa do caos na Saúde . Marcela foi a vítima mais recente. Pouco antes do parto tudo parecia bem.
“Ela escutou a barriga da menina, disse que o menino estava mexendo. O coração dele também, bulindo e muito na barriga dela” conta a mãe de Marcela.
Mas, na Casa de Saúde João Alfredo, o trabalho de parto acompanhado por uma parteira se complicou. “Ela gritava muito, muito mesmo. Dizia que não estava aguentando mais”, conta a mãe de Marcela.
E o pior é que era sexta-feira. Pela escala, bebês em Barreiros só podem nascer de segunda a quinta.
“Nós não temos obstetra no final de semana, sexta, sábado e domingo”, conta o médico José Dhália da Silveira.
Encontramos o médico que foi chamado às pressas para ajudar no parto de Marcela. Ela estava sofrendo havia 18 horas.
“Eu cheguei e a mulher tinha parido há uns 20 minutos, tinha parido o feto morto. Faltava anestesista, faltava sangue, faltava outro médico para ajudar. Não tinha nada disso. Só tinha eu, quando eu cheguei lá. Eu não podia fazer nada”, contou José.
O sistema de Saúde em Barreiros já não era bom e piorou em 2010, quando as enchentes de inverno destruíram o hospital público. A cidade passou então a viver uma situação absurda: há médicos sem hospital e um hospital onde falta médico.
O secretário de Saúde Elídio Moura relata: “O município vive, desde junho de 2010, uma situação de guerra. A partir do momento que nossa rede de saúde foi completamente dizimada.
Agonizando, Marcela foi transferida para o Hospital Dom Helder Câmara, a quase uma hora de Barreiros, mas a tentativa de retirada do útero para conter a hemorragia também aconteceu tarde demais. O diretor do hospital, Audes Feitosa, justificou: “Se a gente conseguisse abreviar o tempo do atendimento do início do sangramento para realizar a histerectomia, talvez o resultado pudesse ser outro”. Marcela morreu aos 21 anos.
Taciana, aos 20, perdeu o primeiro filho, também na Casa de Saúde de Barreiros. Em um dia em que não havia obstetra.(...)

FONTE





 






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