sábado, 12 de maio de 2012

Carta de Maio

Iniciamos as comemorações da 73ª Semana Brasileira de Enfermagem e, neste lapso temporal que compreende o período de 12 a 20 de maio, haveremos de manter nossa postura reflexiva acerca das práticas da Enfermagem, permitindo a consolidação de um projeto profissional coerente com a realidade do Estado de Pernambuco. Um estado em franca expansão econômica, que precisa voltar-se para o desenvolvimento humano da sua população, esmagar os processos de destruição social e efetivar o poder democrático popular. Falar à sociedade qual o papel da enfermagem neste desafio e, ao mesmo tempo, trazer as instituições representativas das categorias, quais sejam, a Aben, o Coren-PE, o SEEPE e o SATENPE, a responsabilidade da condução desse processo, não é tarefa fácil. Antes, as entidades representativas devem estar cientes que se não estiverem “ligadas a um movimento de base disciplinado”, como diria Gramsci, “tendem ou a se tornarem igrejinhas de profetas desarmados, ou a se cindirem de acordo com os movimentos inorgânicos e caóticos que se verificam entre os diversos grupos e camadas”.
A agenda da 73ª Semana da Enfermagem, organizada pelas entidades da enfermagem, busca mostrar à sociedade pernambucana as dimensões dessa profissão: Assistência, ensino, pesquisa e gestão, sob o enfoque vital, social, ético e político das três categorias que a congregam: Auxiliares, Técnicos e Enfermeiros.
Que Enfermagem nós somos? Que Enfermagem nós queremos?
A Enfermagem tem sua histórica luta no serviço à vida. Até o início do século XX, a sua prática foi intimamente ligada ao sentimento de religiosidade, o que marcou seu espírito até hoje, haja vista no discurso ideológico difundido por escolas e serviços, fazendo com que a sociedade reconheça como características do bom profissional, a obediência, o respeito à hierarquia, a humildade, o espírito de servir, entre outras. Ou seja, alguém que não exerça a crítica social, apenas console e socorra as vítimas da sociedade. Por essa razão, até os momentos atuais, Enfermeiros, Técnicos e Auxiliares de Enfermagem enfrentam sérias dificuldades em fazer valer seus direitos profissionais e são submetidos a longas jornadas e precárias condições de trabalho e baixos salários. Sua organização política é frágil e quase não exercem sua autonomia. Um paradoxo diante do crescente aperfeiçoamento técnico e científico da profissão.
A Enfermagem pernambucana hoje não quer subjugo, quer avançar, assumir seu lugar junto ao povo para criar, para apoiar os projetos de defesa e avanços sociais. Sendo coerente com seus princípios éticos, mas proativa, crítica e seletiva ante à construção de políticas para a saúde que garantam a defesa da vida e da dignidade humana.
Somos 52.563 profissionais de enfermagem cuidando da saúde do nosso estado. No Brasil, um milhão e meio de pessoas dedicadas ao cuidar, com responsabilidade, da saúde do nosso povo.
Um número expressivo que não pode ser calar diante das constantes opressões e negativas de direitos. Cite-se, por exemplo, o desrespeito com que as autoridades deste país vem tratando a regulamentação das 30 horas semanais para a enfermagem e do piso salarial. Jornada de trabalho de mais de 30 horas, é ofensivo à sociedade que fica privada de uma assistência de qualidade; do profissional que não tem tempo de se recuperar do cansaço e estresse, que a prática de cuidar da vida lhe impõe; do profissional que tenha tempo de se atualizar, de cuidar da família e do seu lazer, porque tudo isso também lhe torna saudável. Regulamentação de jornada de 30 horas semanais, e piso salarial digno não são meros desejos dos profissionais. São direitos, que já deveriam ter sido reconhecidos em defesa da nossa profissão, em defesa de uma assistência de enfermagem livre de riscos à população.
Aos profissionais de Enfermagem de Pernambuco, nossos parabéns nessa data comemorativa, com o compromisso de defender uma Enfermagem ética, forte e autônoma para todos os pernambucanos.

Simone Diniz - Presidente

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